Ano passado a diretora argentina Lucía Puenzo (ela é filha de Luís Puenzo, que conquistou o Oscar de filme estrangeiro em 1986 com “A história oficial”) num relato seco e poético, abordou o tema da ambiguidade que pode haver no masculino/feminino, no filme XXY. O olhar feminino para a questão dos gêneros sexuais nos oferece um denso contato com a realidade das pessoas que tem de decidir o sexo que querem ter. A figura do pai (Ricardo Darín) tem um tratamento especial, pois é ele que percebe que talvez a “filha” seja, no fundo, um filho. O filme recebeu o Prêmio da Crítica no Festival de Cannes de 2007.
Li no El País , de ontem, um artigo sobre como vem sendo tratada a transexualidade na Espanha e Holanda. O artigo começava com o questionamento: "Como você reagiria se o obrigassem a viver como um homem quando se sente uma mulher, ou vice-versa?" para referir-se ao filme "Meninos não Choram", no qual uma garota (interpretada por Hillary Swank) se faz passar por um rapaz. O filme é baseado em fatos reais e acaba de forma trágica quando um dos amigos reclama ter sido enganado por uma transexual. Seu caso é extremo, mas o filme ilustra uma sensação que pode ser experimentada em qualquer idade, como demonstra o fato de que os especialistas recebem pacientes cada vez mais jovens.
Isto me trouxe à lembrança uma conversa que mantive, durante um cruzeiro, com um médico que me disse ser esta sua especialidade. Não escondi a curiosidade e lhe fiz várias perguntas, dentre outras, se na cirurgia definidora o critério era meramente anatômico. Em se tratando de crianças, não havia como ser diferente, foi o que ouvi dele. Pensava na “alma” das criaturas....
Bom, deixei de lado o jornal, passei para a revista mente & cérebro . O tema não era diferente. O que se percebe é uma abordagem mais sensível a esta tão delicada questão.
A mudança de atitude do jovem cirurgião decorreu da leitura dos diários de Herculine Barbin, uma hermafrodita do século XIX, cuja história de amor e infortúnio foi editada pelo filósofo e cientista social Michel Foucault. A leitura destes é que teria aguçado seu questionamento sobre o que a “normalidade” sexual de fato significava.
A matéria é muito boa.
Para lê-la, clique no título da postagem.
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