Fellini teria dito que para filmar um livro é preciso jogá-lo fora depois da leitura e filmar só o que ficou na memória.
Sempre que assisto a um filme baseado numa obra literária saio meio frustrada. Ainda que tente respeitar a leitura do roteirista, nem sempre concordo com ela. Se o filme é o que ficou na sua “memória”, em regra, não é o que está na minha.
No assunto do dia da BRAVO! se discute se as adaptações precisam ser fiéis. Há quem defenda que, sendo as linguagens (literária e cinematográfica) tão específicas e diferentes, não há como preservar a história tal qual ela é no original, que num roteiro de cinema ficaria sem força, que muitas vezes a história precisa ser desconstruída para se tornar um bom filme.
É fora de dúvida ser indispensável enxugar texto, fazer ajustes técnicos e sei lá mais o que, ao transpor para outra linguagem. Porém, na maioria das vezes, o que se vê é a história concebida pelo autor ficar desfigurada .
A opinião do Fellini é mesmo a de um roteirista-cineasta. Autores de obras literárias costumam não aprovar adaptações que recriam demais a partir da história original e implicam com as adaptações de seus livros para teatro ou cinema.
Gabriel García Márquez, apesar de ter cedido os direitos autorais de O Amor nos Tempos do Cólera para o cinema, continua a resguardar Cem Anos de Solidão. Toda vez que se interessam em levar esta obra para as telas, ele aumenta o preço dos direitos autorais. Para ele, nada de filmar só com o que ficou registrado na memória.
O compromisso de quem faz cinema é com a bilheteria e com às expectativas do público. E este, quase nunca leu ou lerá o livro.
E la nave va.
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