julho 11, 2008

TRANSGRESSÃO E FASTIO

Não há mais razão para buscas. De nenhuma natureza. A transgressora liberdade, pela qual tivemos que lutar , é algo de que sequer ouviram falar os jovens.
Quais seriam os seus sonhos? Por que estariam assim entediados e apáticos?
De que precisam que ainda não alcançaram?
Têm pais/mães que se desdobram em vários empregos ou longas jornadas para lhes assegurar a satisfação de todos os desejos. Dão-lhes o que nunca tiveram. O prazer que isto lhes proporciona de tão efêmero (segundo os especialistas, dura o tempo de passar o cartão de crédito) , como certas drogas , os deixa sempre querendo mais. Ou querendo outra coisa que parecem nem saber exatamente o que.
Seus quartos de criança já foram convenientemente adaptados. E é com a chancela dos pais/mães que iniciam e mantém sua vida sexual (raramente afetiva), em casa.
A constante troca de parceiros (as) não tem importância. Afinal ninguém se apaixona, apenas fica ou tem um PA (“pau amigo”, segundo o código deles)
Eu que me neguei a aceitar a vida que era prevista para as “ moças” quando ainda nem tinha lido Beauvoir, nem sabia o que era feminismo, que não aceitei o “destino” e, desde cedo, comecei a pensar em como escapar dele, conclui que só com a independência financeira isto era possível. Entendi que tinha que ter uma profissão “ masculina” que eliminasse qualquer traço de dependência e que fosse, por isso mesmo, respeitada. As “ moças” daquele tempo se formavam para ser, no máximo, professoras.
Investi o melhor de mim para conseguir o meu intento. Estudei, estudei e estudei. Emocionalmente, paguei um alto preço, mas incompreensão e rejeição só são insuportáveis quando não se tem convicções . Sempre tive muito clara a idéia de que tinha o igual direito de me deitar com quem eu quisesse, não casar ou descasar conforme fosse do meu interesse e gosto . Não aceitava que isto fosse uma prerrogativa exclusivamente masculina.
Tinha muito presente que não ia ser vítima daquele padrão medíocre que elevava os homens (mesmo que fossem uns babacas) a papéis tão importantes que não havia jeito de se safar deles. Era sair do jugo do pai para o de um marido com quem em princípio, se estaria condenada a permanecer, feliz ou infeliz, até o fim dos dias .Ser desquitada era um acinte e os seus filhos eram discriminados. Ainda era melhor ser viúva. Mas isto também não se escolhia.
Nutria, silenciosamente, um profundo desprezo por tudo aquilo em que se acreditava ser reservado às mulheres. Percebia que o mundo nos preparava uma cilada. A felicidade foi ter “descoberto” a maneira de escapar dela e ter coragem de enfrentar os preconceitos.
De olhos abertos para o mundo, trabalhava , estudava , lia , ia ao cinema e conversava. Muitos papos, na faculdade, na praia, ou altas horas, pelos bares da vida, onde a gente se encontrava sem precisar marcar. Afinal, não eram muitos os lugares onde nos sentíamos à vontade. Havia se instalado no país uma ditadura braba e em 68, ainda veio o AI5. Cassadas todas as liberdades, os “estudantes”, leia-se os jovens, se mantinham vivos e atuantes, tinham opinião e força, se manifestavam apesar de severamente reprimidos ! Juventude era quase sinônimo de transgressão. O “amor livre” nos inspirava. As discussões eram acaloradas, apaixonadamente desafiávamos o sistema . Hormônios em alta, cabeças fervilhando e antenadas, não ficávamos indiferentes a nada do que se passava no mundo.
O prazer, que já era sem culpa, com o advento dos contraceptivos foi, definitivamente, desvinculado de procriação. Uma grande libertação!!!!
É certo que não mudamos o mundo como pretendíamos, mas facilmente se percebe que os jovens ficaram dispensados de lutar por muitas coisas de que hoje desfrutam, sem ter a menor idéia de como foram conquistadas.
Ser jovem não tem mais a menor graça e o mundo então, parece mesmo não ter jeito!

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