abril 19, 2008
EMBRIAGUE-SE
É preciso estar sempre embriagado.
Isso é tudo: é a única questão.
Para não sentir o horrível fardo do Tempo
que lhe quebra os ombros e o curva para o chão,
é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de que?
De vinho, de poesia ou de virtude,
como quiser.
Mas embriague-se.
E se às vezes, nos degraus de um palácio,
na grama verde de um fosso,
na solidão triste do seu quarto, você acorda,
a embriaguez já diminuída ou desaparecida,
pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro,
ao relógio, a tudo o que foge,
a tudo o que geme, a tudo o que rola,
a tudo o que canta, a tudo o que fala,
pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro,
o relógio lhe responderão: "É hora de embriagar-se!
Para não ser o escravo mártir do Tempo,
embriague-se; embriague-se sem parar!
De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser".
BAUDELAIRE - trad. J.Pontual
ROBERT DOISNEAU (1912-1994)
Sous le ciel de Paris - chanteuse Silke Straub
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