
“Der Wendepunkt”- K. Mann (A Guinada pág. 20-21 - trad. de Tito Lívio Cruz Romão)
"Lembranças são feitas de um material estranho – são enganosas, mas imperiosas, poderosas e vagas. Não se pode confiar na lembrança, mas não existe realidade fora daquela que trazemos na memória. Todo momento que vivenciamos deve seu sentido ao momento que o precede. O presente e o futuro seriam desprovidos de essência, se fosse apagado de nossa consciência o vestígio do passado. Entre nós e o nada, encontra-se nossa memória, um baluarte todavia frágil e de certo modo problemático. [...] Onde existe lembrança, não há felicidade. Lembrar-se das coisas significa ter saudades do passado. Nossa saudade da terra natal começa com nossa consciência."
“Sinfonia Patética: vida de Tchaikovsky” K. Mann (1935), pág. 104 - do mesmo tradutor)
[...] Cada segundo é uma pequena morte, ele mata a vida, mas ao mesmo tempo também é vida, pois a vida se compõe, na verdade, desses segundos fugidios e fatalmente resvaladiços. Restam as lembranças. Do mar de resvalamentos emergem os rostos, de substância mais tenra e mais dura que as coisas de que são sombras. Algo que se resvalou não retorna, mas permanece guardada na lembrança. Gostarias que voltasse? Ah, não quero voltar a viver mais uma vez um minuto sequer de minha vida, mas também não consigo consolar-me de sua perda. Aquilo que é o consolo desta vida, aquilo que só então a torna tolerável em geral – sua efemeridade, o provisório, o fantasmagórico, o impróprio, o resvaladiço e fugidio da essência da vida -, é ao mesmo tempo o pior, o mais amargo nela, sua maldição e a base profunda de toda a sua tristeza.[...]
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