Aix en Provence foi a cidade onde decidi me instalar , no outono de 2006, para visitar as demais cidades da Provence. Dispondo de tempo e pretendendo aproveitá-lo de forma mais produtiva e enriquecedora , matriculei-me para uma curta temporada de estudo de francês, num programa que se chamava “ Découverte de la Provence".
Nada mais adequado para quem não pretendia alugar um carro, levando em conta o fato de as cidades, de um modo geral, embora próximas (ou talvez por isso mesmo) não contarem com uma rede de transporte público que facilitasse o deslocamento (ida e volta no mesmo dia). Avignon, que visitei sem a escola, é exceção pois conta até com o TGV.
Pela escola, foram-me oferecidas várias opções de hospedagens. A minha curiosidade pela cultura da região não era suficiente a me levar a uma família hospedeira. Havia ainda a necessidade de uma certa privacidade e a vontade pouca de me submeter a outra rotina, além da que me seria exigida pela escola.
**************** Roussillon ***********************
Fiquei muito bem instalada num studio, situado do lado oposto ao da escola, considerando o centro histórico que nos separava. Tal circunstância, me obrigava a atravessa-lo, diariamente, o que fazia sempre por caminhos diversos, com descobertas das mais interessantes. Em Aix se conta mais de 20 fontes.

Cheguei à Aix no dia do centenário de sua mais ilustre figura: Paul Cézanne.
As comemorações já aconteciam desde o começo do ano. Afinal, a cidade vive, pensa, come, respira Cézanne. O que só aconteceu depois que uma fundação americana-judaica investiu na restauração de seu ateliê que se tornou ponto de visitação obrigatória. Nada contra. Relevante porém, observar que os franceses, que hoje tiram o proveito, deixaram todo o patrimônio abandonado por mais de vinte anos, depois de sua morte. Atualmente, somos obrigados a “desligar” um pouco para não passar a abominá-lo (tal é a overdose) e para não sucumbir à tentação de contestar a versão que eles apresentam para a sua amizade com Zola.Nada contra, aqui também.
Como fazia anos que lia quase tudo que dizia respeito à Provence, tive pouco (ou quase nada) a acrescentar dessa experiência. A visão de um campo de lavanda continua me faltando...

No mais, foi uma sucessão de meras confirmações e vivências de realidades sempre mais pobres do que as descritas nos livros, as quais se somavam as minhas ricas fantasias.
Não era culpa da escola nem deficiência dos professores.Falta de sorte minha: 90% dos alunos matriculados para aquele período eram escandinavos. Os outros 10% : duas americanas (uma do Alasca), um alemão, uma japonesa, duas canadenses (sendo uma originária da Letônia) . E eu . (Na foto, segundo da esq.é o prof)
No intervalo do primeiro dia de atividades, o "prof" me abordou muito “cheio de dedos” e depois de muitos arrodeios, queria saber mesmo era se eu não estava me sentindo "deslocada”. Óooooooooooooooobvio que estava!!!
Mas não eram as mesmas as nossas razões. Ele apenas achava que eu não havia sido corretamente avaliada e que não deveria estar ali, mas na sala do nível mais elevado (naquele momento haviam apenas três níveis) . Fui para a sala do nível mais elevado o que, no contexto, quase nada significava. Mais eu ainda não sabia.
************************em frente à escola **********************
Para resumir, constatei que Sobral é mais próximo da França do que a Escandinávia. Eles eram meio toscos, culturalmente muito provincianos, não vão ao cinema , só assistem a TV e lêem os jornais locais (de suas “aldeias”) e, se lêem alguma coisa além disto, deve ser relacionado às suas atividades profissionais.
*************** Isle - sur - Sorgue
Eram recorrentes nas discussões e nos trabalhos apresentados (sempre oralmente) a preocupação com o meio ambiente, cuja solução para eles estaria em tirar os carros de circulação (viva a bicicleta!) , o terrorismo, uma ameaça difusa, porém constante e tão grave quanto a da gripe aviária. No mesmo nível...
Nunca, ninguém, riu ou cantou. Ah! Não conheciam nenhuma das velhas canções francesas que a gente ouve desde que nasce, nem escritores, atores, diretores de cinema, políticos, filósofos, enfim, nada da cultura francesa.
E, para finalizar, ninguém sabia por que havia escolhido ir estudar na Provence: por que Aix e não Lion? Por que Aix e não qualquer cidade da Bretanha ou da Normandia? por que não Paris? Não haviam respostas. O que me levou à conclusão de que nem sabiam direito onde estavam.
Marseille
Indaguei, “casualmente” se eles sabiam quem tinha sido Pagnol , o nome escrito na porta de nossa sala. Entreolharam-se, meio assustados.....Algumas (no ano sabático) estavam na Provence há pelo menos 3 ou 4 meses....
Fui deixando e acabei sendo a última a fazer a apresentação do trabalho final. Escolhi como tema : La Provence. Fiquei com a impressão de que a “ prof “gostaria que eu tivesse sido a primeira. Quanto aos colegas, sem comentários...
Nos últimos dias do curso, me encarregaram de revisar a tradução do site. Perguntaram-me como tomei conhecimendo da escola (se eu respondesse que foi no orkut?) e fiquei sabendo que, antes de mim, só tinham recebido um brasileiro.
A parte boa: O studio me permitiu receber amigas, adorei os savons de Marseille, les huilles, tapenades e paellas da feira, la cuisine provençale, almoçar no Cadrillon, beber pastis no PTT e o Mistral, que semostrou bem forte em Avignon!
Um comentário:
Estimada amiga, sou um apaixonado da Provence, mais uma coisa em comum, mas tenho que falar de Alphonse Daudet e Les "Lettres de mon Moulin" sont une oeuvre radieuse de jeunesse qui en possède la fraîcheur, la spontanéité, la verve et le naturel. Lire les "Lettres de mon Moulin" c'est entendre le chant de la cigale à l'aube, contempler les étoiles la nuit, sentir le thym et le romarin. Lire les "Lettres de mon Moulin", c'est être transporté en Provence, "-la Provence de la mer, la Provence de la montagne, avec son histoire, ses moeurs, ses légendes, ses paysages,-". Ces écrits provençaux ravissent grands et petits: lisez "installation" à un enfant et voyez son visage s'éclairer à la description des lapins détalant la queue en l'air dans les fourrés un soir de clair de lune...
Saudades e Beijos
António
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